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28.1.07

Novos Crimes do Amor, Capítulo 1

Uma loba que desperta

Marlucia sentia-se mal tratada pelo Alfredo. Já namoravam há 5 anos, mas a mesmice a incomodava há uns 3. Detestava coisa morna como essa. Não havia domingo que ele não tomasse um porre. E porres com ressacas que duravam umas 48 horas. Ela, criada na igreja, não admitia bebedeira. Talvez por trauma, pois sempre se lembrava do tio Ditto, que tomava porre por qualquer motivo. Ele, filho de pais separados, arranjava uma desculpa para se embebedar com os amigos. E o pior, é que toda vez que ia assistir a novela das 8 ao lado dela, dormia no início do primeiro capítulo e só acordava depois que ela jogava um copo dágua fria em seu rosto. Ela queria mais envolvimento amoroso, mas Alfredo parecia nao colaborar muito para isso. Era sexo só e pronto.

Tinham os mesmos amigos, os mesmos conhecidos, família morando perto uma da outra. Por isso, Marlucia foi se acomodando com a situação. Deixava prá lá, pensava que depois que casasse ia continuar sofrendo com a ausência do namorado e já se entregara a esse clima de derrota. Até que ouviu dizer que Arismar Salgado, famoso ex-jogador de futebol local e do Atlético Mineiro, ex-treinador físico do time da Votorantim e atual empresário do futebol, ia abrir uma loja na cidade e estava recrutando vendedoras jovens para fazerem parte da equipe da empresa. Ela estava mesmo precisando de um emprego novo.

Salgado Sports ia muito bem no mercado. Já tinha 5 lojas, outdoors espalhados pelo estado, anúncios e vinhetas de rádio patrocinando o esporte da região e criativos anúncios nos jornais. Chegado o dia da entrevista, Marlucia colocou sua melhor roupa e foi para a fila. As moças que se apresentaram na recepção ficaram muito entusiasmadas quando souberam que o Arismar Salgado, em pessoa, faria a entrevista inicial. O burburinho e o bochicho parecia o mesmo de um desfile de modas no Fashion Rio, São Paulo Expo, essas coisas. Todas se sentindo as modelos para encantarem o novo patrão. Marlucia não apresentava, entretando, a mesma reação.

Ela estava bem arrumada, mas seu coração murchou no impacto da chegada naquela recepção cheia de mulheres de diferentes tipos e idades, algumas jovenzinhas e bem atraentes, fazendo com que ela achasse logo que aquele páreo não era para ela correr.
Ficou num canto, esperando ser chamada. Distraída estava, distraída ficou, bateu o cansaço e ela foi apagando, apagando e dormiu, recostada na poltrona confortável da sala de espera, enquanto as outras peruas se esganiçavam pelos corredores. De repente, ouviu ao longe uma voz. Foi abrindo os olhos aos poucos e viu que alí já não havia mais ninguém. Algumas horas tinham se passado. Só um rapazinho com uma prancheta e um walkie talkie na mão. Ele falou para alguém que havia ainda uma última moça a ser entrevistada. Perguntou seu nome e pediu que entrasse pela enorme porta de vidro à sua frente. Para onde ela foi, caminhando devagar. Passou por um saguão, entrou na primeira porta à direita e viu, sentado numa confortável poltrona de couro, o Arismar. Uma emoção para ela. Ele a olhou bem fundo nos olhos, mirou nas suas coxas carnudas e disse, com uma voz de barítono que a todas encantava:
- "Tire a roupa!"
Ela perdeu a fala. Aquela frase soou como um tiro de canhão. Mesmo assim, pouco a pouco e devagarinho, foi tirando peça por peça até ficar de calcinha e sutiã, mostrando um belo corpo, elogiado por Arismar.
Arismar ligou pelo interno. "Dona Carmen. Dona Carmen. Não estou entendendo o que é isso. A moça não foi brifada?". Dona Carmen apareceu com uma lista na mão. "Como é seu nome mesmo?", perguntou a uma perplexa Marlucia, que não sabia se respondia ou se vestia de novo as roupas que havia espalhado pelo chão.
-"Marlucia Godoy".

Dona Carmen então, confirmou: a moça não sabia dos detalhes porque não tinha participado das apresentações anteriores. Na verdade, o briefing informava que ela teria que ir vestida com shortinho e bustiê para o teste final. O susto virou alegria para Marlucia.
Conseguiu o emprego. Ela estava contratada para ser uma das vendedoras da loja. Chegou em casa cedo, mas não comentou com ninguém. Zé Alfredo estava jantando um feijãozinho novo que tia Arminda tinha preparado.
Foram se sentar em frente à TV. Só então ele notou que sua namorada exalava um perfume diferente.
-"Zezé me emprestou. Cheiro gostoso, né?"
-"Emprestou pra que?"
- "É que eu fui fazer um teste para um emprego novo e... passei".
-" E tinha que ir assim perfumada?"

Marlucia gostou de saber daquela pontinha de ciúme que finalmente conseguiu despertar em Alfredo. "Amor, no emprego novo eu tenho que trabalhar de shortinho e camiseta", disse. A reação do namorado foi de displicência, deu de ombros e mudou de canal.
Dois dias depois, ela se apresentou no trabalho e logo foi chamado para uma conferência com o diretor.
"-Dona Marlucia, prazer. Meu nome é Arismar Salgado".
"-Eu já conheço o senhor de muito tempo. Papai acompanhava todos os jogos do Atlético e chegou a ir pro Rio numa final do Campeonato".
"-Dona Marlucia, a senhora fala inglês?"
- "Estudei um pouquinho no segundo grau e fiz até o nível 3 do CCAA".
"-Isso é muito bom, porque em 3 meses vamos abrir uma filial em Somerville...a senhora sabe onde fica? "
"-Na Inglaterra?"
-"Quase que a senhora acerta, mas fica mesmo em Boston!"
-"Ahn, tenho tres primas morando lá. Me disseram que é uma beleza!"
"-A senhora estaria interessada em trabalhar em Boston?"


(FIM - do primeiro capítulo. Acompanhe o FOLHETIM Novos Crimes de Amor)

17.1.07

Metrópolis se faz presente!





Coconut Creek, 16 de Janeiro de 2007

Milbs tem cobrado meu blog, no qual não apareço desde 31 de Dezembro de 2006. Mas é que o ano prá mim ainda não começou. Sinto-em em refação, refazenda ou refazendo lei lá o que perdido na primeira década deste século XXI. Tentando me achar.
Parecia-me que jamais o veria. Quando era pequeno, o Século XXI aparecia em filmes de Flash Gordon, Dr. Silvana e Capitão Marvel, como também nos incríveis Metrópolis, de Fritz Lang e Fahreneit 451, este inspirado na ficção de Ray Bradbury. Mais tarde, o que mais me impressionou foi 2001, Uma Odisséia no Espaço. Sem esquecer do frenesi e da música de Blade Runner.
Acho que assistí Metrópolis pela primeira vez nos anos 50 em algum cinema poeira de Campos dos Goyatacazes e mais tarde, nas sessões intelectuais da Cinemateca do MAM, no Rio. No filme, o ano é o de 2026. Esse ano parecia muito longe para a minha imaginação da época e agora vejo que só faltam meros 19 anos para chegarmos lá. Digo chegarmos, se eu tiver a sorte que venho tendo e sobreviver a mais alguns terremotos, tsunamis e furacões, permanecer saudável, porque convenhamos, terei, então, 79 anos de idade.

Bateu o zunido do pensamento positivo. Nos primeiros 15 dias do ano, nesse 2007 dos meus Sessenta, resolví que teria que sair de novo da concha e por isso resolvi dar uma volta pelo Norte, vivenciar o frio gelado de New Hampshire e comer um delicioso jantar no North Side de Boston. Agora, de volta em meu bunker do Brejo do Coqueiro, começo a clarear o pensamento e me dedicar a preparar o ano, finalmente. Ano do Porco de Fogo. Sugiro que pesquisem a delícia que os chineses predizem para 2007.
Preciso me preparar psicológicamente para finalmente dar uma crescida. Como, não sei ainda. Mas logo terei a solução. E vocês serão os primeiros a saber.