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8.3.07

POEMAS DE DONA RAFIZA

ZENAB CHAME BARBOSA, minha mãe, também conhecida como Dona Rafiza, passou a vida toda escrevendo e produzindo. Nasceu em Dores de Macabu, mas bem novinha foi morar em Quissamã. Esteve longa temporada na Serrinha, o que pode ter lhe trazido a inspiração para os seus poemas, peculiar a meninas da roça. Casou-se com Phydias Amaral Barbosa e teve tres filhos. Em Quissamã, nos anos 40 e 50 do Século passado, dedicou-se a promover festas, espetáculos, sempre se envolveu na política local e levou a família para morar em outras cidades, como Campos e Rio de Janeiro. Escreveu inúmeros poemas, poesias, trovas, citações, adaptou texto de outros autores e durante 5 décadas de sua vida, dedicou-se a estudar o mistério dos espíritos e da busca da paz interior, acreditando que havia vida depois da morte. Alguns de seus textos são obras de inspiração espiritual.
Ela desencarnou há 9 anos atrás. Tive vontade de publicar seus textos. Chegou a hora! Acompanhem por esse blog, um pouco de sua trajetória poética. Em cada edição, apresentarei 3 poemas. Escrevam com suas impressões. Valeu. Barbosinha.

TRES FLORES
(para meus tres filhos)
Tres flores muito belas
que Deus me confiou,
LUCIA, o jasmim, uma delas,
ROSANE, uma rosa
PHYDIAS, um amor..
Recebi com carinho,
as flores que Deus me deu
nosso lar é doce ninho,
seus sonhos são os meus...
Quando partir deste mundo
e meu Criador encontrar,
dir-lhe-ei do pesar profundo
minhas flores eu deixar.
Nos campos do universo,
entidades que eu encontrar
como arautos em sucesso
virão á terra aclamar:
abençoadas sementes,
alguém aqui plantou,
em dias tristes ou contentes,
com fé, esperança e amor...

VAGANDO
Um dia saí a vagar
e no cemitério entrei,
fiquei então a pensar
no cemitério, sua lei...
Sepulturas em vários detalhes
confundindo-se todas as cores
dos mundos juntavam-se os males
uniam-se vários amores,
Cemitério, uma só guarida
ricos, pobres no mesmo lugar
na igualdade da vida
nada nos resta, é só perdoar..
Irmão, seja tu rico ou pobre,
leia o evangelho com amor,
faça com que o tempo sobre
e reconheça o teu Senhor..
Ricos, orgulhosos, isto é verdade,
que pensam em fortuna esbanjar,
lembro-te, um convite à caridade
venha comigo vagar...

PLANTADA POR ELE
(escrita após a morte de seu Barbosa, Phydias pai)

Em u´a manhã muito chuvosa
ví nossa primeira orquídea,
Plantada pelo meu Barbosa
meu querido e saudoso Phydias
Beijei-a com muito amor
E chorei de emoção
Agradeci ao criador
aquela flor de nosso coração
Aquela orquídea tão linda
Cheia de vida, tão viçosa
traz-me saudade infinda
do meu querido Barbosa
Em preces ao nosso Deus
Orei com mais fervor
ali com a saudade, um adeus
E para que não surja um malfeitor
(sim, os malfeitores não têm coração)
Arrancam e jogam pelo caminho
Outros pisam com furor
Não, não meu Deus Pai do Céu.
Porque tanta maldade?
Não deixe desaparecer
A flor de nossa saudade

5.3.07

JAMIL CORREIA CHAME (1934-2007)



Sempre admirei Tio Jamil. Eu gostava de suas histórias malucas pelo mundo afora, perdido e encontrado nas inúmeras cidades pelas quais brilhou pelo Brasil. Principalmente, eu me recordo, saudoso, de sua coleção de piadas e anedotas intermináveis. Quando ele estava por perto, sua personalidade exteriotipada e totalmente transparente tomava conta do ambiente e todos sabíamos que lá vinha uma história engraçada. Caricato, esse meu tio serviu de inspiração ao longo de minha vida, levando-me a acreditar que ele era um arquétipo de Pícaro, que passava para uma geração de mais de 100 sobrinhos e sobrinhos-netos (Jamil não teve filhos) uma experiência certamente vivida em outras encarnações. Sabia e declamava, de coração, desde poemas de Castro Alves até piadas do Bocage.
Há dois anos atrás, sofreu uma queda no centro de Rio das Ostras, aonde morava com a irmã, Fátima, e desde então sua vida se transformou. Transtornado e sem acreditar que, como um touro resistente, pudesse estar com alguma "coisa" séria, foi definhando e entregou-se totalmente, vindo a ficar doente. Entrou em coma há quase um mês atrás e desencarnou no último dia 3 de março de 2007 às 22 horas, no Rio de Janeiro. Alguns dias antes de completar 73 anos.
Seu corpo viajou de volta para Quissamã, onde foi enterrado agora de manhã, creio que sem muita pompa e circunstância. Impossibilitado de comparecer, pedi a minhas tias que jogassem uma flor em cima do seu caixão, pedindo a seu espírito, que a essa hora flutua no astral, possa pairar sobre nossas lembranças e, que de vez em quando, nos deixe saber se há comédia no céu. Essa foto traz estampada a sua felicidade quando nos fazia rir com gosto. Bye, tio Jamil.

3.3.07

Novos Crimes do Amor, Capítulo 4 (último)




(Resumo do capítulo anterior)- Zé Alfredo abriu mão do amor que sentia por Marlúcia. Deixou que ela cumprisse suas responsabilidades como amante do dono da loja. O rompimento, para ele, tinha sido horrível. As piadinhas que ouvira na sinuca o fizeram até mesmo pensar em suicídio, pendurando-se numa das árvores mais frondosas da cidade. Seus problemas de depressão e as dificuldades no relacionamento afetivo deixaram que ele criasse os demônios em sua mente de apaixonado traído. E viajou para Massachusetts atrás dela!

Capítulo 4 - Um tiro à queima roupa
No início, Zé Alfredo pegava um trem de Framingham até o centro de Boston e de lá, a linha verde do Metrô, que o deixava em frente ao Shopping Center de Cambridge, em Leshemere, onde foi inaugurado, com pompa e cirscunstância, o lojão da Salgado Sports. Até o consul compareceu. Vieram jornalistas da Flórida, de New York e Connecticut, todos querendo abocanhar anúncios para seus sites e jornalecos. Houve desfile de modas, com lindas jovens mostrando a coleção da Salgado.
Ele ficava de longe, observando todo o movimento. Aproveitava-se do frio antártico da cidade para esconder-se atrás de um sobretudo, uma tôca e um cachecol. Do jeito que estava vestido, ninguém o reconheceria. Via a hora em que sua antiga amada chegava para o trabalho e a hora em que saía. Algumas vezes, chorava baixinho pelo revés que tinha sofrido na vida. E começou a planejar a execução da sua vingança pessoal.
Um dia, numa das viagens entre a South Station e a Union Street, conheceu um casal. E foi convidado para participar de um culto na igreja. Arranjou logo emprego numa padaria, por indicação do casal bondoso. Sentia que sua vida dava uma nova respirada cada vez que ia à Igreja. Sentia-se mais aliviado!
Pouco a pouco, foi se lembrando das ruas da sua infância, e da árvore na qual se viu pendurado uma noite, quando, ao voltar bêbado da sinuca, pensou em se enforcar alí mesmo, para toda a cidade testemunhar a sua ação final.
Em Framingham, enquanto os colegas da casa ficavam na sala assistindo às mesmas novelas que sua ex-amada tanto gostava, ele lia a bíblia no quarto e se envergonhava dos dois fatos. Primeiro, o de pensar em tentar o suicídio. Segundo, como poderia ter pensado em matar aquela linda mulher, que tinha sido sua companheira por quase 5 anos? Recordava-se dos momentos mais íntimos de sua relação com a bela Marlúcia, quando ficavam abraçadinhos até o final da novela e depois iam fazer amor, cada um sonhando com seu artista favorito. E não conseguia mais pensar em vê-la estirada num caixão.
Deixou de frequentar o shopping de Cambridge. Resolveu esquecer aquele assunto de assassinato, passava os dias fazendo pãozinho de queijo e salgadinho. Os meses se passaram. Zé Alfredo era outra pessoa.
Mas, um belo dia, desses em que o destino apronta, mandando um exuzinho safado fazer trabalho que tinha que ter sido feito por um anjo, Arismar e Marlúcia entraram abraçadinhos e muito felizes... aonde? Na padaria onde Zé Alfredo trabalhava. Foram fazer compras para uma festinha particular. Ele ouviu aquela voz familiar, engoliu em seco. Parou de enrolar salgadinho. No mesmo instante, subiu aquele ódio contido, que vinha segurando por meses. Saiu pela porta traseira do estabelecimento e foi vomitar ao lado dos contêineres de lixo no beco gelado.
Resolveu, finalmente, dar a volta por cima. Foi até aquela rua que o Alex tinha indicado. Encontrou com o senhor negro, de barbas, que lhe vendeu um revólver baratinho. E três balas. Explicou como o negócio funcionava. Ele colocou o três oitão por debaixo do sobretudo e saiu, aliviado, pelas ruas de East Boston. Pegou a linha vermelha do metrô, trocou para a linha verde em Government Center. E, com toda a força que conseguiu reunir, dirigiu-se a passos largos para o Shopping da Leshemere. Entrou decidido. Fez uma ligação telefônica do aparelho público que viu no segundo andar.
No dia seguinte, foi assim a manchete do Brazilian Times, um periódico de Boston:
"BRASILEIRO ASSASSINADO NO SHOPPING!"
Um advogado americano e seu intérprete chegaram na delegacia.
"Eu telefonei para a loja. Insisti muito e ela disse que ia me atender. Ficou aborrecida, mas acabou cedendo. Sentamos no café Starbucks. Falou que não gostava mais de mim, não imaginou nem por um segundo que eu pudesse estar vivendo na Nova Inglaterra. Pior, ela não me olhava no rosto. Eu não conseguia mais pensar em viver sem ela. Tirei minha arma do sobretudo para me matar. Foi quando chegou o amante. Ele viu, pensou que eu ia atirar nela. Então, num ato de desespero, ele se jogou por cima de mim para impedir. Foi quando a arma disparou, acidentalmente. Matei Arismar sem querer! Logo veio toda a segurança do shopping, a polícia chegou em menos de 1 minuto. Fui algemado. Sem entender nada... Doutor, tem alguma árvore frondosa aqui por perto?"
FIM
Para comunicarem-se com o autor, escrevam para phydiasb@yahoo.com