Powered By Blogger

31.12.08

Atravessando mais um limiar


Muitos me telefonaram no Hospital: Cristina Miranda, Hilza DaSilva, Steve DelRoy, Armando Barreto, Frederico Barbosa, Carol LM, Nicholas Barbosa (meus filhos), Elaine Loretto, Adairton, Junior Mendes, Eliene e João, Alex Ferro e Raffaela, Andreza Priscila sempre-muito-preocupada, Billy Souto Maior, Bill Kantrowitz, Robson Lemos, Beth do BT, Nahur Fonseca, Mauricio Filho, José Ferreira da Silva Neto, Lucia Souto Maior, Suely Franco McQuilken, Professor Julio, Marcos Coutinho, Edel Holz, Cristina Borges, Marcelo Malcher, Claudia Carmo, Liliane, Cristina e Cristiane Paiva, Armando Rozário, Luiz Garcez, Tia Jamile, Maria Lucia, Rosane (minhas irmãs), Flávia Lima Torres, Eduardo Lima Torres, David Adnopoz, José Carlos Moraes, Edirson Paiva, Edirson Júnior, Ricardo Barbosa, Suely Franklin, Piedad Rueda, Elisa Garibaldi, Victoria e outros que juro não lembrar por estar lotado de narcóticos contra a dor que me assolava no número 7 (depois baixou para 4). 
Os emails chegaram às dezenas. Vieram de Lençóis, na Bahia (Professor ZéCarlos Moraes), de Monteiro Lobato, em São Paulo (Glaico Costa), de Curitiba, de Macaé, Florianópolis, do Rio de Janeiro, Niterói, de Rio das Ostras, Tamoios, Barra de São João, Saquarema, Lisboa, Barcelona, Belém (grande Djalma Filho) e outras cidades, sempre com aquela mensagem de otimismo e com as estimas de recuperação. Como agradecer a todos pela preocupação comigo? Bem, afinal fiz um “big deal” dessa minha internação. 
A diferença foi a presença física do “Seu” Jaime, meu anjo da guarda, do Pié, mentor espiritual, do Daniel Nocera, grande músico e amigo, Eni Sampaio, amiga de longas datas, Evaldo e a noiva, Cláudio Reis, Beth Reis, amigos de Boston, Mr. Alain De Paula, amigo e meu chefe na escola World and I Institute. Jamais esquecerei da força que recebi da “roomate” Andréia Saliba, que me levou ao Hospital em crise pós-operatória e no dia do “discharge” foi me buscar e me levou para fazer compras nos últimos minutos do mercado aberto no dia de Natal. 
E quero ainda “pontuar” a importância que Lindy Lebouthillier Serra deu ao meu momento especial. Não faltou um dia de visitas no Hospital, levando-me o calor e amizade que um “doente” sente quando não tem sua família por perto. De volta em casa, aqui em Saugus, muitos repetiram suas chamadas. Das novas ligações, fiquei bem feliz com a do amigo Flávio Cavour e da presença de Dra. Janine, José Milbs, Nato Reis, Vania Pacheco (Emilia Fritex) e Regina Veiga no MSN. 
Pelo telefone e pelo email móvel, a presença constante da minha linda namorada e sua fé imbatível me fizeram acreditar o tempo todo que Deus e meus protetores não sairam um momento siquer de meu lado. Graças a suas constantes orações e sua voz doce e relaxada no telefone, que me deixaram mais calmo e confiante no futuro. 
Soube, pela TV Internacional, que meu ex-chefe na TV Globo, o grande ator e diretor Fábio Sabag, faleceu hoje pela madrugada (31/12) do mal que me assolava. Fiquei pensando: E se eu não tivesse operado na hora certa, o mesmo poderia me acontecer?
Agora, posso comentar: amigos homens, não deixem passar e com o cuidado necessário, façam seus exames de PSA e encarem a famosa “dedada”, claro, sem se deixarem apaixonar…. Segundo o resultado patológico, estou “livre” desse mal, com mais de 90% de chance de estar curado completamente. Ontem, dia 30, o médico tirou a sonda. Fiquei independente de novo. Recomeçando.
Uma estadia em hospital não é nada agradável, principalmente quando se tem uma cirurgia delicada para fazer. São várias etapas, sendo a anestesia uma das interessantes, pois, como aconteceu comigo, o intestino pode “trancar”. Daí, veio a dor do pós. Nada passava do meu estômago. Comecei a série de “throw-ups” (em inglês choca menos, mas é vômito mesmo) e voltei a me internar. Recebi um presente: um tudo enfiado no nariz para retirar todo aquele líquido indesejado. Mais dez dias de "hospedagem" na primeira classe do Beth Israel Hospital, aliás um hospital judeu e eu não sou circuncizado. Mesmo assim, não me confundiram com um palestino, embora minha nova cara se pareça um pouco com a do Yasser Arafat. Sem perigo, essa nova guerra que assola judeus e palestinos não entra naquele hospital!
As enfermeiras, sempre muito atentas e prestativas, se revezavam na tarefa árdua de me fornecer os remédios na hora certa, verificando meus sinais vitais com muita profissionalidade. E jamais esquecerei da generosidade de Caroline (na foto acima), Nicollete, Heather e Carnie, além de outras. Essas foram as que mais trataram de mim, principalmente a Caroline, com sua atenção completamente desdobrada e me chamando o tempo todo de Mister Barbosa prá lá e prá cá. Educadíssima!
Acredito, também, que passei por essa com mais serenidade, graças à amabilidade dessas moças e de seu trabalho impecável. Ao Dr. Martin Sanda e sua equipe, com Dr. Williams, Dr. Ahmred, só tenho que agradecer a paciência comigo. 
Em algumas madrugadas no hospital, acordei assustado com sonhos incríveis. E num dos sonhos que tive durante essa jornada, atravessei diversos limiares, com o meu objetivo de herói me transportando para o momento em que, em Março, depois dessa longa cavalgada, entrarei num Castelo com a minha espada Excalibur para “libertar” minha princesa, que me fará avançar, sem limites, para outros limiares ainda mais (im)possíveis. Meu desejo tem um nome! 
E, depois, como recompensa, ter minha amada bem pertinho de mim, me acariciando e me enchendo de beijinhos, encostando e deslizando meu rosto no dela, remendando meus pensamentos desconsertados e costurando meus elementos metafísicos. Viva 2009! Em poucos dias entrarei no Castelo! De preferência, com um fundo musical parecido com Divano!




4.12.08

Boston, Zero Grau



A água se transforma em gelo a zero grau Celsius. Hoje pela manhã, o parabrisa do carro estava congelado. Sinal de que em poucos dias teremos frio para valer. Os capotes, japonas, casacos, cachecóis, botas especiais, pás, raspadores, vassourinhas, snow plowers e claro, a própria neve, vão todos dar o de sua graça e fazer de Boston uma cidade ainda mais colorida. É o inverno chegando na Nova Inglaterra.
Enquanto alguns “brazilinos” reclamam que há pouco serviço, outros vão se aproveitando das inúmeras vagas deixadas pelos que têm, de fato, medo e até mesmo pavor do frio e já começam a migrar para a ensolarada Flórida. É o vai-e-vem e leva e traz da vida brazuc’americana nos EUA.
Conheço Claudio Reis há 5 anos. Ele veio de Governador Valadares e se instalou em Boston em 2000 com sua amada Beth. É o brasileiro mais adaptado com o frio. Trabalhando em 2 empregos (durante o dia como cozinheiro e à noite como segurança de Night Club), Claudio reitera sua opinião quase todos os dias. Ele diz: “Adoro! E é bem melhor para trabalhar!”
Muita gente fica com as mãos congeladas, os pés incrivelmente frios, o nariz às vezes nem dá para sentir de tão dormente, os rapazes reclamam que não podem pegar no bilau no break do xixi com medo de congelar o dito cujo. As mulheres brasileiras, que usam aquelas calcinhas bem apertadinhas e curtinhas, precisam comprar umas do tipo “libece” que mamãe usava nos anos 50 em Campos. Diversos senhores e senhoras passam a usar ceroulas. 
Para acrescentar um pouco de drama à aventura de enfrentar a neve que se aproxima, várias cidades de Massachusetts que fazem parte da grande Boston, têm ladeiras que se tornam perigosíssimas e são um convite a sustos e batidas totalmente hilárias, se não atrapalhassem bastante a rotina do motorista desavisado. Imagine-se a 30, 40 Km por hora, descendo uma ladeira congelada e de repente, é obrigado a dar uma “suave” freada. 
Companheiro, pode não acontecer nada. Mas seu carro vai deslizar mais do que um brinquedo da Disneyworld. E você vai se lembrar das corridinhas de rolimã que fazia ladeira abaixo em qualquer cidade brasileira. Daí, dentro do seu carro, coração a mil, você tenta controlar, o carro descendo, desliza prum lado, depois pro outro, (você reza!) e se der sorte ele pára no meio da rua sem bater em outro que estiver estacionado ou vindo em direção contrária. Mas quem disse que “todos” têm sorte?
O que vai melhorar a partir desse inverno é que o dia termina às 4 da tarde, baixando aquela escuridão e a rapaziada, cansada das mesmices globais da TV Internacional, começa a sair pros Happy Hour, pros Videokes e, pasmem, para a escola de inglês. Os locais de encontro ficam cheios até….10 da noite. Porque, tratando-se de uma região-dormitório, onde as universidades começam a despertar seus alunos bem cedo, também no ambiente do trabalho do dia-a-dia acaba sendo assim. 
Os imigrantes precisam ir pras suas obras, pros seus “clíns”, pras “dichas”, “parkeando” seus carros sem problemas na frente dos escritórios e lojas. Bem, claro, há as exceções, os que se podem dar ao luxo de ficar no Café Belô, no Sal e Braza ou no Samba Bar até altas horas.
Com Zero Grau fizemos o último espetáculo, Caffé Concerto, virar um happening em Lexington no domingo, dia 30. Mesmo com o frio que se abateu pela cidade logo depois da chuva de sexta e sábado, o teatro (quase) encheu. Foi uma homenagem ao artista Italo-Americano “Farfariello”, Eduardo Migliaccio, que enchia os palcos, bares e restaurantes de Nova York nos anos 10 do Século XX. Ele foi considerado o Rei do Esquete em sua época, tendo criado 150 personagens. O Chico Anisio de lá! 
Da Itália, vieram Maurizio Merolla, Laura Pugliese, Mauro Arbusti, Marco Iezzi e… Veronica, filha de 15 anos do Maurizio e que deu um show ao dançar Tarantela e Tango. Laura é uma soprano maravilhosa, que solta uns agudos incríveis ao cantar com Marco o “Tace il Labbro”, duo perfeito da ópera A Viúva Alegre, de Franz Lehar. 
Acho mesmo que Caffe Concerto merece um blog “of its own”, mas me atrapalha quando participo de algo tão belo e minha escrita parece querer pedir confete. Outro dia, fui chamado de presunçoso e metido por uma pessoa importante para a minha vida. Portanto, tenho que tomar cuidado. Nada de narcisismo. O espetáculo foi legal e basta! Quem quiser fotos e outras notícias da performance, me escrevam “in private, please”. 
Com a expectativa da neve que começa a cair esta semana, também começo a desacelerar o motor que não parou nestes últimos 40 dias de trabalho, sem um dia de folga siquer, vivendo amor em longa distância e tendo que faturar o das próximas férias. Estarei fora de combate por 3 semanas. Entrarei  numa “fria”, mas talvez consiga sair dessa com a alma, o corpo e o coração regenerados. E pretendo fazer parte dos índices positivos do Beth-Izrael Hospital de Boston. Fora de combate não quer dizer fora do ar, nesses tempos internautas. 
José Milbs e Armando Barreto andaram lendo meu blog com atenção, pois descobriram que estou de novo apaixonado. Dos meus 17 leitores, pelo menos 2 se tocaram. Aliás, Tania Schuller também andou meio preocupada, porque não sabia que eu e Elaine tínhamos nos separado. Agora, em segunda mão, para os que ainda não sabiam, faço desse hebdomadário virtual meu porta-voz. E não foi uma “gelada”, porque o que deve permanecer de uma separação com filhos maravilhosos, frutos de um relacionamento concreto, são a compreensão, a benevolência e a atitude proativa. 
Como diria João do Vale, que nunca teve que enfrentar o frio do "nordest'américano" e quando viajou do Maranhão para São Paulo num pau de arara no final dos anos 50: “Deus ajudando, a gente chega lá!”

Até a próxima!