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4.12.08

Boston, Zero Grau



A água se transforma em gelo a zero grau Celsius. Hoje pela manhã, o parabrisa do carro estava congelado. Sinal de que em poucos dias teremos frio para valer. Os capotes, japonas, casacos, cachecóis, botas especiais, pás, raspadores, vassourinhas, snow plowers e claro, a própria neve, vão todos dar o de sua graça e fazer de Boston uma cidade ainda mais colorida. É o inverno chegando na Nova Inglaterra.
Enquanto alguns “brazilinos” reclamam que há pouco serviço, outros vão se aproveitando das inúmeras vagas deixadas pelos que têm, de fato, medo e até mesmo pavor do frio e já começam a migrar para a ensolarada Flórida. É o vai-e-vem e leva e traz da vida brazuc’americana nos EUA.
Conheço Claudio Reis há 5 anos. Ele veio de Governador Valadares e se instalou em Boston em 2000 com sua amada Beth. É o brasileiro mais adaptado com o frio. Trabalhando em 2 empregos (durante o dia como cozinheiro e à noite como segurança de Night Club), Claudio reitera sua opinião quase todos os dias. Ele diz: “Adoro! E é bem melhor para trabalhar!”
Muita gente fica com as mãos congeladas, os pés incrivelmente frios, o nariz às vezes nem dá para sentir de tão dormente, os rapazes reclamam que não podem pegar no bilau no break do xixi com medo de congelar o dito cujo. As mulheres brasileiras, que usam aquelas calcinhas bem apertadinhas e curtinhas, precisam comprar umas do tipo “libece” que mamãe usava nos anos 50 em Campos. Diversos senhores e senhoras passam a usar ceroulas. 
Para acrescentar um pouco de drama à aventura de enfrentar a neve que se aproxima, várias cidades de Massachusetts que fazem parte da grande Boston, têm ladeiras que se tornam perigosíssimas e são um convite a sustos e batidas totalmente hilárias, se não atrapalhassem bastante a rotina do motorista desavisado. Imagine-se a 30, 40 Km por hora, descendo uma ladeira congelada e de repente, é obrigado a dar uma “suave” freada. 
Companheiro, pode não acontecer nada. Mas seu carro vai deslizar mais do que um brinquedo da Disneyworld. E você vai se lembrar das corridinhas de rolimã que fazia ladeira abaixo em qualquer cidade brasileira. Daí, dentro do seu carro, coração a mil, você tenta controlar, o carro descendo, desliza prum lado, depois pro outro, (você reza!) e se der sorte ele pára no meio da rua sem bater em outro que estiver estacionado ou vindo em direção contrária. Mas quem disse que “todos” têm sorte?
O que vai melhorar a partir desse inverno é que o dia termina às 4 da tarde, baixando aquela escuridão e a rapaziada, cansada das mesmices globais da TV Internacional, começa a sair pros Happy Hour, pros Videokes e, pasmem, para a escola de inglês. Os locais de encontro ficam cheios até….10 da noite. Porque, tratando-se de uma região-dormitório, onde as universidades começam a despertar seus alunos bem cedo, também no ambiente do trabalho do dia-a-dia acaba sendo assim. 
Os imigrantes precisam ir pras suas obras, pros seus “clíns”, pras “dichas”, “parkeando” seus carros sem problemas na frente dos escritórios e lojas. Bem, claro, há as exceções, os que se podem dar ao luxo de ficar no Café Belô, no Sal e Braza ou no Samba Bar até altas horas.
Com Zero Grau fizemos o último espetáculo, Caffé Concerto, virar um happening em Lexington no domingo, dia 30. Mesmo com o frio que se abateu pela cidade logo depois da chuva de sexta e sábado, o teatro (quase) encheu. Foi uma homenagem ao artista Italo-Americano “Farfariello”, Eduardo Migliaccio, que enchia os palcos, bares e restaurantes de Nova York nos anos 10 do Século XX. Ele foi considerado o Rei do Esquete em sua época, tendo criado 150 personagens. O Chico Anisio de lá! 
Da Itália, vieram Maurizio Merolla, Laura Pugliese, Mauro Arbusti, Marco Iezzi e… Veronica, filha de 15 anos do Maurizio e que deu um show ao dançar Tarantela e Tango. Laura é uma soprano maravilhosa, que solta uns agudos incríveis ao cantar com Marco o “Tace il Labbro”, duo perfeito da ópera A Viúva Alegre, de Franz Lehar. 
Acho mesmo que Caffe Concerto merece um blog “of its own”, mas me atrapalha quando participo de algo tão belo e minha escrita parece querer pedir confete. Outro dia, fui chamado de presunçoso e metido por uma pessoa importante para a minha vida. Portanto, tenho que tomar cuidado. Nada de narcisismo. O espetáculo foi legal e basta! Quem quiser fotos e outras notícias da performance, me escrevam “in private, please”. 
Com a expectativa da neve que começa a cair esta semana, também começo a desacelerar o motor que não parou nestes últimos 40 dias de trabalho, sem um dia de folga siquer, vivendo amor em longa distância e tendo que faturar o das próximas férias. Estarei fora de combate por 3 semanas. Entrarei  numa “fria”, mas talvez consiga sair dessa com a alma, o corpo e o coração regenerados. E pretendo fazer parte dos índices positivos do Beth-Izrael Hospital de Boston. Fora de combate não quer dizer fora do ar, nesses tempos internautas. 
José Milbs e Armando Barreto andaram lendo meu blog com atenção, pois descobriram que estou de novo apaixonado. Dos meus 17 leitores, pelo menos 2 se tocaram. Aliás, Tania Schuller também andou meio preocupada, porque não sabia que eu e Elaine tínhamos nos separado. Agora, em segunda mão, para os que ainda não sabiam, faço desse hebdomadário virtual meu porta-voz. E não foi uma “gelada”, porque o que deve permanecer de uma separação com filhos maravilhosos, frutos de um relacionamento concreto, são a compreensão, a benevolência e a atitude proativa. 
Como diria João do Vale, que nunca teve que enfrentar o frio do "nordest'américano" e quando viajou do Maranhão para São Paulo num pau de arara no final dos anos 50: “Deus ajudando, a gente chega lá!”

Até a próxima!

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